Meningite
transmitida por parasita avança no Brasil
Publicado em:
04/08/2014
Uma nova forma de meningite - transmitida por parasitas - está se
espalhando pelo País. Levantamento publicado pela revista científica
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz mostra que a meningite
eosinofílica já foi diagnosticada em seis Estados, nas Regiões
Nordeste, Sul e Sudeste. Foram diagnosticados 34 casos e uma morte
desde 2006.
As formas mais conhecidas de meningite são virais ou bacterianas. Já
a eosinofílica é causada por um verme, o Angiostrongylus
cantonensis, e é transmitida por crustáceos e moluscos, incluindo o
caramujo gigante africano. A preocupação dos pesquisadores é alertar
profissionais de saúde, uma vez que se trata de um parasita recente,
identificado no Brasil há oito anos. Os casos da doença ocorreram em
São Paulo, Rio, Espírito Santo, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do
Sul.
"Os médicos não estão atentos a essa forma da doença, mais por falha
de educação e de treinamento. Eles querem saber se a meningite é
viral ou bacteriana e não prestam atenção aos outros agentes",
explica o médico Carlos Graeff-Teixeira, da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Ele assina o artigo com a bióloga
Silvana Thiengo, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), e com o
médico Kittisak Sawayawisuth, da Universidade de Khon Kan, na
Tailândia, onde a doença é endêmica.
Os sintomas da meningite eosinofílica são semelhantes aos das
outras: dor de cabeça persistente, febre alta e, menos
frequentemente, rigidez na nuca. O que permite diferenciar é o exame
do liquor, líquido entre as meninges, extraído por punção lombar. "O
aumento de eosinófilos, que são células de defesa do organismo, é
típico de infecção por parasita e verme."
Graeff-Teixeira explica que o verme não se desenvolve no organismo
humano e o tratamento é com corticoides para reduzir a reação
inflamatória. O tratamento ameniza os sintomas e evita o agravamento
da doença, que pode deixar sequelas como disfunção nos movimentos de
braços e pernas, redução ou perda da visão e audição.
O artigo mostra, ainda, que o caramujo gigante africano é o vetor
mais frequente do A. cantonensis no Brasil. Os caramujos ingerem
fezes de roedores contaminadas com larvas do verme. Quando se
locomovem, liberam um muco, para facilitar o deslizamento, que
também contém larvas. As pessoas podem ser infectadas se ingerirem
esse muco. Isso ocorre no consumo de legumes, verduras, e frutas mal
lavados, por exemplo. Ou se tocaram nas plantas e vegetais e depois
levaram a mão à boca.
"Esse molusco chegou ao Brasil em uma feira agropecuária no Paraná,
nos anos 1980. Como a criação com fins comerciais fracassou, foram
liberados no meio ambiente e se proliferaram. Outras espécies de
caramujos e crustáceos podem transmitir o verme, mas o caramujo
gigante africano está em todos os lugares: no quintal, na pracinha,
nas ruas. Como está próximo, facilita o contágio. E já foi
encontrado em todos os Estados, exceto no Rio Grande do Sul",
explica a bióloga Silvana Thiengo, chefe do laboratório de
Malacologia do IOC.
Prevenção
Silvana ressalta que medidas simples evitam a transmissão: lavar as
mãos com frequência e deixar hortaliças e frutas de molho por 30
minutos em um litro de água com uma colher de sopa de água
sanitária.
Ela recomenda ainda que os próprios moradores eliminem os caramujos
- com as mãos protegidas por luvas ou sacos plásticos, devem ser
recolhidos e deixados em balde por 24 horas, em uma mistura de uma
medida de água sanitária para três de água. Depois, as conchas devem
ser jogadas no lixo comum. "É preciso ficarmos alertas porque podem
ocorrer surtos, principalmente se houver o consumo de moluscos ou
crustáceos crus", ressalta Silvana. No Equador, 26 pessoas foram
infectadas, em 2009, ao comerem ceviche feito com molusco
contaminado.