Na saúde, a
crise é de gestão
Os
investimentos foram sempre crescentes na Saúde na mesma medida
em que só aumentou a impopularidade dos serviços oferecidos. Há
algo de podre no sistema.
Publicado em: 07/05/2015
Fábio Campos
Muito provavelmente, o ainda (pelo
menos até a noite de ontem) secretário de Saúde do Ceará, Carlile
Lavor, estava certo quando afirmou que o “Ceará gasta demais em
saúde”. A declaração foi dada em entrevista ao O POVO publicada na
edição de março passado. Por sinal, uma ótima entrevista coletada
pelos jornalistas Érico Firmo e Sara Oliveira.
Avalia-se que a “desgraça” de Carlile na pasta teria começado a
partir da publicação da entrevista. Sua fala teria ferido
suscetibilidades políticas e administrativas. Recomendo a quem não
leu que a leia e a quem leu que a leia novamente. Basta uma simples
pesquisa na internet para se chegar a ela. A fala de Lavor é um
banho de simplicidade.
Vejam a seguir um trecho da entrevista quando Lavor explica um
detalhe da mais exitosa ação administrativa em saúde pública de toda
a história do Ceará, fase em que médico comandou a pasta na segunda
metade da década de 80 (Governo Tasso Jereissati).
– Quando assumi, em 1987, o Estado era paupérrimo. O que dava para
fazer era prevenir a morte de crianças. Mais de 100 morriam em cada
mil que nasciam. Era uma vergonha. E melhorar isso era possível
mesmo com pouco dinheiro. Apresentamos ao Tasso e ele topou. Foi aí
que nasceu o programa Agentes Comunitários de Saúde... Naquele tempo
o dinheiro do Ceará era pouco. Como a inflação era muito alta,
apresentei o Programa de Agentes da Saúde em dólar. Iria custar US$
6 mil. Era pouco dinheiro. No ano passado, o SUS do Ceará gastou R$
6 bilhões.
Perceberam? O programa de saúde pública que obteve os melhores
resultados da História do Estado e que acabou replicado Brasil afora
custou 6 mil dólares. Os resultados fizeram com que o Ceará se
tornasse referência com reconhecimento da ONU. Por isso, sugiro ao
governador Camilo Santana: permaneça ou não como secretário, Carlile
Lavor precisa ser laureado com a Medalha da Abolição.
Carlile é um promotor de políticas públicas de base. Não é um gestor
de hospital. Façam a ele a seguinte pergunta: “É melhor construir um
hospital novo ou fazer saneamento básico na Capital que tem 50% da
população sem acesso a esgoto?” Imagino qual seria a resposta.
Os tempos são outros desde que Carlile Lavor chegou ao fim de sua
primeira experiência como secretário de Saúde. De lá para cá, uma
burocracia de médicos se entranhou nas estruturas de saúde do Estado
e da Capital. Sai Governo entra Governo, essa turma se mantém
incólume. Há relatos de conflitos de interesses e relações
promíscuas misturando o público e o privado (esse tema fica para
mais adiante).
O fato é que hoje há uma óbvia crise de gestão. Desde que Carlile
deixou a Secretaria, os investimentos foram sempre crescentes na
mesma medida em que só aumentou a impopularidade dos serviços
oferecidos, sendo que a população é mais assistida e com renda
melhor. Há algo de podre no sistema.
É incompreensível que, na era da internet, do cidadão conectado,
consultas ainda sejam marcadas com a necessidade da presença física
e de filas. A necessidade de implantar de um sistema moderno para
marcar consultas vem da década de 90. Até hoje, nada. É só um dos
sintomas de uma velha crise de gestão.
Está na hora do Governo mexer nas estruturas administrativas
viciadas que mandam e desmandam na Secretaria.
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Consulte nos links abaixo,
informações detalhadas das operadoras de Planos de Saúde: