Das
400 mil espécies de plantas que existem, cerca de 300 mil são
comestíveis. Destas 300 mil, consumimos cerca de 200.
Publicado
em: 11/08/2015
As feiras livres e quitandas de muitas
cidades, não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, são uma
explosão de cores e sabores.
Formas estranhas e cheiros desconhecidos contribuem para uma
variedade espantosa de verduras, frutas e legumes.
Mas, por mais variadas que possam parecer estas espécies e por mais
próximas – uma ida ao supermercado do bairro basta para comprá-las –
estes produtos representam apenas uma fração mínima das espécies que
podemos comer.
Não é uma falha dos supermercados e feiras.
O fato é que das 400 mil espécies de plantas que existem no mundo,
cerca de 300 mil são comestíveis. E, destas 300 mil, consumimos
apenas cerca de 200.
E, a maioria das proteínas que consumimos e têm origem nas plantas
vem de três cultivos: milho, arroz e trigo.
Tédio na vida sexual
Mas, se as opções são tantas, por que a humanidade se alimenta de
apenas 0,06% das plantas comestíveis?
"Até agora, a explicação sugeria que fazemos isto para evitar o
consumo de plantas tóxicas", disse à BBC Mundo John Warrer,
professor de botânica na Universidade de Aberystwyth, na
Grã-Bretanha, e autor do livro A Natureza dos Cultivos.
Para Warren, o argumento não tem fundamento.
"Muitas das plantas que comemos são originalmente tóxicas, mas, com
o passar do tempo, nós e outros animais encontramos formas de lidar
com estes componentes tóxicos."
O botânico se refere aos processos de domesticação que foram
eliminando as substâncias venenosas nas plantas e também aos
procedimentos como cozimento, que tornam uma planta digerível.
"Na verdade, fazemos isto pois escolhemos deliberadamente comer
plantas que têm uma vida sexual muito tediosa", afirmou.
A vida sexual previsível, segundo Warren, é o que garante o sucesso
de uma planta como cultivo em larga escala.
E previsível, neste caso, significa uma planta que se reproduz por
um mecanismo de polinização muito generalizado, que pode ser o vento
ou os serviços de insetos como as abelhas.
Os dez mais
As orquídeas são exemplos mais óbvios na hora de explicar a razão de
uma planta com vida sexual complexa não ser boa para ser
domesticada.
"Elas são as pervertidas do mundo das plantas. Têm flores e hábitos
sexuais estranhos", diz Warren.
Existem cerca de 20 mil espécies de orquídeas, e muitas poderiam ser
boas como alimentos. Mas, cultivamos apenas uma para o consumo: a
orquídea da baunilha, cuja polinização, feita manualmente, é viável
somente devido ao seu alto valor de mercado.
A razão pela qual não cultivamos mais orquídeas, segundo o
professor, é "que elas têm uma vida sexual esquisita".
Para se reproduzir, estas orquídeas devem ser polinizadas por uma
espécie específica de inseto e, tanto este quanto a orquídea,
dependem do outro para sobreviver.
Se as orquídeas forem cultivadas longe do habitat deste inseto, não
produzirão sementes e fracassarão como cultivo.
Por isso, segundo Warren, acabamos com apenas "dez cultivos mais
importantes do planeta (milho, trigo, arroz, batatas, mandioca,
soja, batata-doce, sorgo, inhame e banana), que, em sua maioria, se
polinizam com a ajuda do vento, sem necessidade de insetos".
Abelhas
Se as plantas mais importantes para nossa dieta não dependem de
insetos, outra pergunta que surge é: qual a razão de tanta
preocupação com a queda global nas populações de abelhas, um dos
principais agentes polinizadores?
Na opinião de Warren, "o problema foi exagerado".
"É importante, mas as abelhas não participam dos cultivos que nos
dão calorias. Nenhum dos dez mencionados antes será afetado pela
morte das abelhas."
"Mas, se as abelhas morrem, as frutas serão afetadas - as maçãs,
peras, morangos, por exemplo - e isto prejudicará a nossa ingestão
de vitaminas, a qualidade de vida e piorará nossa saúde. Mas, não
vamos morrer de fome", acrescentou Warren.
O botânico acredita que é importante aumentar o número de espécies
que cultivamos, e dá mais ênfase àquelas que exigem menos recursos.
"Nossa tendência é domesticar plantas muito nutritivas, mas que
necessitam de muitos fertilizantes. Deveríamos cultivar novas
plantas com sistemas nutritivos inferiores, porém mais sustentáveis
no futuro", afirmou.
E, ainda de acordo com Warren, diferentemente de nossos ancestrais,
entendemos as dificuldades de cultivar plantas de vida sexual
complexa e podemos superar estes obstáculos.
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