Dieta rica em
carboidratos foi chave para inteligência humana, diz estudo
Pesquisa
sugere que desenvolvimento de nossa capacidade de obter açúcares
de amidos sustentou acelerado crescimento do cérebro - e
contradiz defensores da dieta das cavernas.
Publicado
em: 22/08/2015
Eles têm má reputação entre quem quer
perder peso, mas tudo indica que, há milhares de anos, alimentos
ricos em carboidratos - como os tubérculos - foram cruciais para que
ficássemos mais inteligentes.
Ao menos é esta a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores
da Universidade Autônoma de Barcelona, University College of London
e Universidade de Sydney, que afirmam que o consumo de plantas ricas
em amido foi fundamental para a evolução de nossa espécie.
A razão é simples: a glicose é um dos principais combustíveis do
cérebro.
E, segundo o estudo, o desenvolvimento de nossa capacidade de obter
açúcares dos carboidratos - e, em particular, dos amidos - sustentou
o acelerado crescimento do cérebro "que começou a notar-se a partir
do [período] Pleistoceno Médio".
"A capacidade de aproveitar raízes e tubérculos ricos em amido na
dieta dos primeiros hominídeos é considerado um passo potencialmente
crucial na diferenciação entre os primeiros Australopitecinos de
outros hominídeos", diz o estudo, publicado na mais recente edição
do The Quarterly Review of Technology.
Em uma linguagem mais simples, isso quer dizer que uma dieta com
alimentos ricos em carboidratos deu a nossos antepassados uma
importante vantagem evolutiva (que algumas das dietas modernas ou em
moda ignoram).
Os humanos têm três vezes mais cópias do gene que cria as amilases
salivares - enzimas que ajudam a transformar os carboidratos em
açúcares - do que o resto dos primatas.
E essa adaptação, dizem os pesquisadores, começou a ser produzida há
aproximadamente um milhão de anos.
A importância da culinária
Neste momento, os humanos já haviam aprendido a cozinhar.
E a multiplicação das amilases salivares havia sido uma das
respostas de nosso organismo às possibilidades abertas pelo uso do
fogo, pois os tubérculos crus são muito mais difíceis de processar e
transformar em açúcares utilizáveis.
Segundo a equipe liderada por Karen Hardy, da Universidade Autônoma
de Barcelona, isso confirma a importância da cozinha na evolução
humana - e é uma má notícia para quem propõe dietas crudívoras (com
alimentos de origem agrícolas crus).
Mas uma das hipóteses principais - a ideia de que, sem carboidratos,
a nova dieta não haveria gerado combustíveis necessários para nossa
rápida evolução - também deu novos argumentos aos críticos da
chamada "dieta paleolítica" ou "dieta paleo".
Essa "dieta dos homens das cavernas" se baseia na ideia de que a
dieta dos nossos antepassados era composta principalmente por
plantas silvestres e animais selvagens.
E, em geral, exclui alimentos ricos em amido, que responsabiliza por
boa parte da obesidade que afeta a sociedade moderna.
Hardy e sua equipe acreditam que esse não é um retrato adequado da
verdadeira dieta de nossos antepassados.
"Alimentos provenientes de plantas ricas em amido eram uma parte
abundante, confiável e importante da dieta", argumentam no estudo,
intitulado A importância da dieta de carboidratos na evolução
humana.
Eles afirmam que esses carboidratos não só eram comuns como também
foram definidores da evolução humana. E continuam sendo necessários.
"Os humanos modernos requerem uma fonte confiável de carboidratos
glicêmicos para manter o funcionamento adequado de nosso cérebro,
médula renal [parte do rim], glóbulos vermelhos e tecidos
reprodutivos", explicam.
O que não significa que reduzir o consumo de calorias não seja
saudável. Mas certamente confirma que, antes de começar qualquer
dieta, uma consulta com um médico é um passo necessário.
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